Não me considero com vocação para carregar
bandeiras. Acredito que alguns precisem da crença de que são únicos e diferentes para
o mundo e, se essa crença os leva a agir responsavelmente diante do
outro, peço que continuem. Porém, não sou assim. A ideia de
que cada palavra, ação ou fala fará a diferença no mundo cria um peso
ao qual sucumbo e não consigo me mover. Posso contar uma coisa que
aconteceu comigo?
Estive em um evento sobre literatura há poucos dias. Diversas
discussões,
muitas inquietações. As apresentações corriam em dois dias,
e ao final do segundo dia decide me apresentar, fazendo alguns comentários sobre o que havia
visto e ouvido. Alguns minutos falando, agradecimentos pela oportunidade de estar
ali e encerrei minha fala. Encerrado aquele primeiro momento, saí com a impressão de que agora seria visível demais a todos.
Mas não fui. Na volta do
evento, pós-almoço, era como se o falado por mim na parte da manhã tivesse sumido, ido
embora. Estranhei-me com esse pensamento… E como é bom estranhar-se!
Buscar nas próprias incongruências razões de reflexão. Foi naquela
‘invisibilidade’ que entendi que a questão não era o impacto do que
eu falava, mas a expectativa elevada sobre o que eu estava esperando acontecer.
No fundo, queria que minhas palavras fossem lembradas durante todo o evento,
retomadas e elogiadas e que todos ali conhecessem meu nome. De fato, estava
sendo um orgulhoso de marca maior.
Mas a experiência que vivi serviu
para ver que posso existir como um ser que passa, um estrangeiro peregrino que
irá,
em algumas vezes, marcar a outros. Mas isto não será minha responsabilidade,
o que não
me isenta de ser responsável. Demonstrou que minha importância não é absoluta, que tenho
mais megalomania do que imaginava. Querer ser importante demais pode ser uma
armadilha que tira da gente a possibilidade de se importar e ser importante.
Quero agir mais assim: diminuindo as
expectativas sobre mim mesmo, possibilitando que eu arrisque mais e tente mais,
por esperar menos. Quando a expectativa se torna bloqueio, ela deixou de ser
boa. Às
vezes, reclamamos dos ‘pesos’ que carregamos, sem contudo notar que somos nós mesmo que diariamente
os enchemos. Baixar as expectativas não significa anulá-las, mas redimensioná-las para uma resolução melhor.
Melhor reflexão sua que li até hoje!
ResponderExcluirbom dia Pri!
ExcluirObrigado por acompanhar e pelos comentários. =)