Nunca Pare na Pista


Talvez uma das coisas mais desprezadas das estradas são as sinalizações. Muita gente não observa as placas que indicam possibilidade de ultrapassagem ou a proibição da mesma, ou qual a velocidade a ser respeitada naquele trecho. Além de informativas, as placas servem para advertir sobre riscos e instruir sobre determinadas ações necessárias ao condutor naquela via. Enquanto viajo, nas idas e vindas da universidade ou à passeio, sempre gosto de observar as placas. Não só por um exercício prudente, já que elas estão lá por um justo motivo, mas por algumas delas sempre me chamarem atenção a fatos da minha vida mesmo. Uma que sempre me faz pensar é a “Nunca Pare na Pista”.

Geralmente de fundo branco e letras pretas, essa placa me recorda quase um imperativo existencial. Ela começa com uma forte expressão: Nunca. Acredito que seja mais força de linguagem do que realidade de aplicação, ou seja, o nunca está ali para mostrar-lhe que a atitude sinalizada deve ser evitada ao máximo. E, devemos concordar, parar numa pista de alto tráfego ou em determinado momento do dia pode ser a pior decisão a ser tomada. Ou seja, mantenha-se em movimento custe o que custar. Como disse, essas placas me trazem para perto da minha existência e vejo que muitas vezes parar é sempre a primeira opção. Desistir, deixar para lá, adiar ou arrumar uma boa desculpa para não fazer, para não movimentar. Quando são muitos os riscos, quando o conforto onde estou instalado é uma boa cerca isenta de perigos (ou imagino que seja), parar parece ser o melhor a fazer. Manter-se em movimento pode exigir forças que não sei se tenho, pode cobrar altos preços deixando coisas para trás que não gostaria de deixar, mesmo que muitas delas sejam excessos.

Mas, continuemos para a próxima palavra (e, por favor, não se incomode com minha análise com ares de professores de português). Parar: estancar o movimento, deixar de correr ou permanecer no mesmo lugar. Imagine aquelas retas, longas e de perder de vista seu final: o projeto de trabalho, o curso que você quer fazer, mas ninguém acredita que seja rentável, a pessoa mais degradável que desconta aquele momento de raiva em você que nada tem a ver com a situação, o amigo que continua errando (como ele pode continuar se você já lhe mostrou o caminho das pedras!), a situação que nunca muda… Para que continuar? Simplesmente parar parece ser a única opção viável. As forças já estão esgotadas, a vontade se tornou nula e o gosto amargo.

A última parte da frase: na pista. O local do movimento, e é aqui que começamos a entender o porquê dessa placa (e talvez o porquê deste texto?). Parar é um movimento importante e, quando negado, pode cobrar um preço alto. Basta ver quantos estão adoecendo por trabalhar demais ou por não limitar as demandas que podem aceitar na sua vida emocional. A questão, porém, não é a ação de parar, mas o local onde se para. Estamos falando da vida e, querido leitor, a vida não para! A simultaneidade dos acontecimentos ao nosso redor, alheios as nossas vontades e até mesmo a nossa existência, prosseguem num fluxo sem fim. E, diversas vezes, estaremos jogados nessa torrente, quase nos afogando. E, então vem a placa: Nunca pare na pista. Mais uma vez bata estes braços! Uma última vez estique os músculos da perna para lutar contra a correnteza… Aquela pessoa vale mais uma tentativa, o projeto merece mais um fôlego. Parar pode ser um opção, mas não a primeira e nem a única opção. Há energia ainda. Olhe para si, aonde você chegou.

Repita a si, como lema, “Nunca pare na Pista”. Enquanto todos desistem, param ou se dão por vencidos, você pode tentar mais uma vez. A pista continua, o movimento e sua sabedoria estarão na difícil distinção entre o tentar novamente e o encontro do momento de parar. Viver é um risco constate que exigirá de nós mais do que achamos ter. Mas, por favor, não pare. Leve em consideração que parar pode ser movimento, se essa ação significar parar de se sabotar, de se colocar para baixo, de duvidar exageradamente de si mesmo, de deixar o medo se tornar senhor da sua existência. Não! Se esse for o parar que necessita, ele é movimento. E, enquanto há vida, ainda restando uma oportunidade… Nunca pare na pista.

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