O Homem das Medalhas


 
As manhãs de domingo são especias, pois nelas posso encontrar-me com irmãos e amigos que professam a mesma fé cristã, intensificar o fogo que em meu coraçãé testado a cada dia da longa semana. Já cedo posso fortalecer a esperança da minha fé… É um momento único e especial na vida dos cristãos no mundo inteiro essa recordação da obra de Cristo. Domingo é dia de alimentar a alma, de ouvir a Palavra e ser desafiado por ela. Graças a Deus, a comunidade onde estou tem um cuidado especial para com esses momentos de estudar, meditar sobre e na Palavra que revela o Verbo de Deus. Graças a Deus, à época dessa estória, estava como ensinador nessa comunidade; mais aprendi do que ensinei, devo confessar. Nossas portas estão sempre abertas e todos são bem vindos. É comum a entrada das mais diversas pessoas, desde políticos até mendigos. E ambos tem lugar em nossos cultos. Todos são convidados a participar… É claro que ainda precisamos de muito aperfeiçoar em nossas vidas para sermos verdadeiros acolhedores… Mas, pela Graça, vamos caminhando.

Enquanto, em um daqueles domingos, apresentava a Palavra, um homem chegou e entrou. De inicio, fui o único a notar; Era o único de frente para a porta de entrada (Uma boa metáfora para aqueles que ensinam: receber os que vem pela Porta); Ele cumprimentou alguns sentados no último banco, portava em suas mãos o que parecia ser medalhas e as mostrava as pessoas que cumprimentava. Notei que a presença daquele desconhecido estava incomodando alguns nos bancos; Ainda que observando, continuei a falar. Sempre gostei da participação dos ouvintes, por isso todos sabiam que podiam me interromper quando quisessem… Após a interrupção de uma irmã, aquele desconhecido decidiu pedir a palavra. Levantou seu braço e falava alto: Irmão, irmão!!
        
Dei a oportunidade aquele homem. Ele tinha direito de palavra na casa de Deus? A pergunta ideal seria: tenho EU direito a palavra na casa de Deus? O desconhecido não se contentou em ter a palavra, decidiu caminhar em minha direção, na parte da frente do salão de reuniões: “Eu té hoje não prestei atenção a mensagem, e você falou que tem que prestar atenção…” Ele dizia enquanto andava em minha direção, apontava para a testa. Dei alguns passos em direção a ele; o cheiro do álcool era forte. Ele me mostrou as medalhas, como havia feito anteriormente com outros, e dizia “Eu bebo e não presto atenção… Eu bebo” e apontava as medalhas.
        
“Hoje é uma boa oportunidade para prestar atenção. Você é bem vindo… Pode se sentar conosco.” Enquanto falava, ele meneava afirmativamente sua cabeça. Voltou a seu lugar, ficou mais alguns minutos e saiu. A reunião continuou a acontecer, porém fiquei a pensar sobre aquelas medalhas. Um sinal de vitória? Ou um apelo de alguém que perdeu para o Álcool e buscava redimir, de alguma forma, essa perda carregando um sinal de conquista? Não sei, não pude conhecer mais da historia daquele homem… Pensei nas medalhas que carrego, querendo mostrar vitórias que não tenho, negando minha condição de carente e dependente de Deus e de meus irmãos. De quantos que carregam troféus alheios, medalhas falsas e derrotas reais, duras de serem aceitas.

Aquele encontro ainda ecoa dentro de mim. “Pela Graça sois salvos…”, diz Paulo em sua carta aos Efésios, no capítulo 2. Minhas medalhas são inúteis, meus fracassos testemunham isso. Mas a Cruz fala, em seu horror; e além deste, professa esperança: o maior dos derrotados é bem aceito na casa do Pai. Nãé o mérito que nos garante qualquer tipo de vitória aos olhos de Deus, é a graça.

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