Recordatório


 

Atualmente, estou muito ocupado com mudanças. Após minha formatura, voltei para minha cidade natal, de mala e cuia. Não voltei o mesmo que fui, mas a casa que me recebeu também não é a mesma da qual me despedi no agora longínquo ano de 2010. Estamos, nestes dias atuais, num processo de adaptação e reconhecimento. Ir e voltar são os caminhos que as mudanças nos dão, como Maria Rita nos lembra na belíssima canção “Encontros e Desencontros”: Todos os dias é um vai-e-vem/A vida se repete na estação/Tem gente que chega pra ficar/Tem gente que vai pra nunca mais/Tem gente que vem e quer voltar/Tem gente que vai e quer ficar.

Pensar em ciclos é fundamental para nossa existência enquanto gente da história, gente que usa calendário,finita; gente que dança entre os dias, que compõem melodias entre meses e anos. Por favor, não se perca na própria história: olhe suas “estações”, seus pontos de mudanças. Somos uma história que se faz, todo dia e o dia toda, até o fim…

Se somos história, havemos de ser memória. E, foi na faxina da minha nova velha casa que encontrei o recordatório que me faltava. Aqui temos o carinhoso costume de chamar a despensa de ‘quartinho’. Qual o nome da despensa aí na sua casa? Bem, neste lugar encontramos materiais de limpeza, alimentos e muito papel; muito papel mesmo. Acabamos com boa parte deles: velhas contas, rascunhos e calendários guardados não se sabe porquê. E então me deparei com as fotos…

Gosto de faxinas, de limpar para se instalar. Minha organização interior tem muito a ver com a exterior – e esse texto, por exemplo, está sendo escrito entre pilhas de livros que aguardam um livreiro e a companhia de um gato emprestado de minha irmã, que passa férias por aqui. Ainda não é meu espaço: leia esse texto como um de um escritor estrangeiro, ainda. Essa fase de organizar me causa agonia e alegria, assim como as mudanças que estão acontecendo e irão acontecer.

E então, as fotos. Diversas, com negativos (!) e muitas emoções juntas. Decide separar algumas, fazer minha cronologia de vida – fotos com 5, 12, 17, 24 anos. E, como tudo foi tão moroso e tão rápido! Algumas coisas me lembrei como se acontecessem ontem, no quintal da minha casa. Eu e minhas histórias… Você gosta de fotos? Estou com uma pilha delas junto a bagunça que está sendo e será mais ainda meu quarto. Olha para eles e vejo o quanto já vivi, o quanto posso agradecer e o quanto me arrependo; o que ri e chorei vendo essas fotos não dá para contar.

Qual é seu recordatório? Aonde você se reconhece? A história pessoal é um espelho de que somos. Além das fotos, fui encontrando bilhetes, cadernos escolares antigos, boletins. História, meus queridos. Muita história. E me orgulho por ela, por estar aqui falando que mudei e mudarei, e neste movimento escrevo do que me lembrarei daqui alguns anos.

Um bom início para uma história, se eu fosse a contar, poderia ser: “Era 4h da manhã quando, no dia 16 de Setembro de 1991, uma criança nascia neste mundo. Seu nome? Jonathan…”. Como a sua começa? Vamos lá! Há muito de você para ser contado, comece a exercitar. Quando você muda, cria história. E cada história é repleta de memória; e toda memória é narrativa de algo novo, algo que muda: fazendo história, neste ciclo que convencionamos chamar de vida.

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