Sorge


 
Sorge[1]

Sabe, ela começou a dizer...
Hoje, ao sair do curso, vi um passarinho no chão. Desesperado, tentava voar mas não conseguia. Com muito custo consegui o pegar e, enquanto ele estava na minha mão, tentei descobrir o que estava impedindo-o de voar. Foi então que comecei a pensar no quanto me sentir acolhida, segura, protegida depois de um momento de desespero pode me ajudar a voar novamente, como ocorreu com o passarinho que saiu da minha mão. Fiquei pensando o quanto queremos desesperadamente resolver, alcançar, alçar voo, mas precisamos nos encolher e deixar ser cuidados.

E lá estava ela, aquela linda moça que conquista meu coração a cada dia, me encantando de novo. E por quê encantando? Porque ela me inspira a escrever, a pensar junto – e isso é magia, da mais poderosa: a magia de compartilhar pensamentos e inspirar. Só as mais poderosas pessoas conseguem tal poder, que no segredo profundo guarda a sua essência: o amor.

Somos durões – ou queremos passar essa impressão para todo mundo. Não choramos, nem ficamos confusos ou tristes, estamos sempre alegres e prontos para ajudar. Ou prontos para fazer, para resolver, alçar voo... A palavra desesperar não parece harmonizar com a palavra esperança. Ao contrário, lhe cabe apenas o papel de antítese; posso propor que façamos dialética? A esperança, essa atitude de esperar, nasce no momento em que abandonamos algo, isto é, desesperamos desse algo. Des-esperamos, ou deixamos de esperar para abrir espaço para um esperar de outra qualidade: o ser cuidado.

Cuidado envolve quem cuida e quem será cuidado. Cuidar lembra de um estado de fragilidade, de impotência, de carência de algo ou alguém. E, num mundo de poderoso, tal como Pessoa diz, “só vemos príncipes” – e o cuidado clama para ver homens:
Ó príncipes, meus irmãos,    
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Ser cuidado está na postura de abandonar a dureza e permitir que outro alguém veja nossa fragilidade. Veja nosso terrível machucado com todas as gases mal arrumadas que tentamos, inutilmente, colocar para estacar o sangramento. Envolve deixar o orgulho de lado – essa qualidade que, mesmo que pouco engessada, se torna armadura – e entregar-se, ou des-esperar de si, para esperar no carinho do outro: esperança.

Cuidemos para que possamos ser cuidados.
Cuidemos para que tenhamos ao nosso redor pessoas como essa linda moça que faz magia e encanta o meu coração. São essas as mais indicadas para fazer bons curativos.

Experiência própria.

 [1]Palavra do idioma Alemão usada pelo filósofo Martin Heidegger para indicar que o homem é "cuidado", porque ele "cuida" ontologicamente de si mesmo e dos outros entes, deixando-os aparecer.

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