Não sei lidar bem
com a incerteza. Com a falta de segurança que o futuro parece deixar em minha
cama a cada noite que vou dormir, quando consigo dormir. A dúvida que
escancara meu desconhecimento e me envergonha diante de um simples ‘e se...’
quando achava que tinha todas as razões do mundo para os meus argumentos. Se
minhas certezas são
castelos, sua matéria
prima é a areia e as dúvidas constantes
da vida são as ondas que
chegam à praia.
Porém, como o colega De
Martini apresenta em seu texto (muito recomendado), a dúvida é o lugar onde
podemos crescer em relação
a nós mesmo e na relação com os outros.
Esse crescimento, todavia, exige seu preço: a possível sensação de ausência de sentido. Casa não a tenha
experimentado, sugiro que se prepare, pois inevitavelmente teremos nossos
sentidos abalados, se não
destruídos. As verdades
que nos mantem de pé
podem, do dia para noite, ruir e junto com elas tudo o que pensamos ter. Nunca
será o fim, mas esses
momentos sempre tem gosto apocalíptico e irreversível.
Certo professor
uma vez me ensinou uma verdade que carrego comigo até hoje: sempre que
tiver muita certeza sobre algo, procure alguém que lhe dê uma dúvida. Saia das verdades que parecem ser tão sólidas e, mesmo
que duramente, suporte a ausência
de sentido. Lute para que a verdade que virá seja mais forte do que a que se foi e,
nos invernos da nossa existência,
sobreviva com o pouco que tem. Mas lute! A verdade que fica sempre tem um preço alto e não será conquistada facilmente.
Verdades que vem fácil
poderão também se ir à mesma
intensidade.
A verdade precisa ser nossa, pessoalmente nossa. Quando penso no que sou preciso identificar-me naquilo que recebi, pois, de fato, estamos o tempo todo dando e recebendo questões e verdades.
Espero que entenda que o que estou chamando de verdade é um tipo de estrutura que mantêm sua vida de pé, e daí a importância de tê-las consigo. Mas não ache que a minha verdade caberá em você: elas são próprias. Podem ser inspiradas, jamais copiadas. E, como num trabalho artístico, a inspiração leva a criação. E toda criação exige um preço do seu criador – transpiração, momentos de ausência de criatividade e crises. Fazem parte do que chamamos sentido.
Viver é lutar
cotidianamente para que o sentido que temos seja mais forte do que foi, ainda
que a custo dele deixar de ser o que é hoje. Exige transformação e coragem. É arriscado e tem
momentos em que achamos que não
daremos conta. Porém,
para saber tudo isso, ainda é
preciso arriscar. Você
pode não concordar
comigo. Mas espero que você
pense. Quem sabe essa não
é a dúvida que você precisava?
NOTA: [1] Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/A-capacidade-para-a-d%C3%BAvida.-Ou-como-evitar-a-receita-da-cat%C3%A1strofe?utm_campaign=anexo&utm_source=anexo
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