“A vida não tem sido fácil”. Afirmação que todos fazemos e escutamos dos outros
constantemente. Cada dia que passa parece que o nó se torna mais apertado e a
gente sente que precisa matar um leão cada manhã para poder, quem sabe,
descansar de uma batalha para entrar em outra. Estamos sem tempo para o
essencial e, por dentro, estamos tão confusos e barulhentos que nos tornamos
cada dia mais ilhas de dias nublados.
Mas, nestes dias nublados, existem momentos que podemos
pensar. Podemos parar a frase que iniciou essa conversa - A Vida - e perguntar,
tal como Gonzaguinha faria, “A vida o que é, diga lá meu irmão”. Passamos tanto
tempo afirmando que ela, a vida, não é fácil que nos esquecemos de nos
questionar o que ela é de fato. Sem saber da razão de ser da vida, passamos a
agir sob o imperativo do existir apenas, carregando errantes o fôlego que ainda
nos resta. E a vida, então, o que ela é?
Vou ser sincero e dizer que não sei. E duvido que possa,
algum dia, responder perfeitamente a essa questão. Atualmente tenho pensando
ainda mais no que é todo esse processo que seguimos, mesmo sem querer ter
começado, dia após dia, na escadaria dos anos, a cada degrau que chamamos de
dias. A pergunta me entorta, faz ficar corado e calado. Eu não sei o que é a
vida, mas estou genuinamente interessado em pelo menos perguntar o que ela é.
Na improvável caçada de sentido, busco antes de tudo aprimorar minhas
ferramentas, as perguntas.
As perguntas… Elas são o quiproquó de tudo que podemos fazer
por aqui. Sem elas, o que seríamos? Se é ruim com elas, sem elas acredito ser
pior. A certeza absoluta é mãe dos absurdos. Convenhamos que muito mal já foi
feito neste mundo por certezas e bem menos por dúvidas. Enquanto caminho nesses
dias, enquanto olho bem no fundo do nublado céu que me devolve a esperança de
um raiar de sol, apenas configuro dentro de mim o básico: antes da vida,
preciso saber o que quero ser. É o tal desejo que minha terapeuta tanto insiste
em me fazer pensar.
De Gonzaguinha, se me permite, vou para Cartola: “Deixe-me
ir, preciso andar”, afirmava o errante cantor na música Preciso me Encontrar.
Preciso andar? Preciso me encontrar, saber o que sou (ou pelo menos preciso
ser). O desejo faz-me mover, ainda que não perceba para onde. O que quero ser?
O que é a vida? Bem, repito com Cartola… “Se alguém por mim perguntar, diga que
eu só vou voltar depois que me encontrar”.
Espero poder te encontrar pelo caminho. Talvez, um dos
motivos mais básicos pelo qual nos perguntamos sobre a vida e sobre quem somos
é o movimento que nos leva ao encontrar. Se encontrar para me encontrar. Na
alteridade posso afirmar a individualidade, e, por isso, decidi ficar no meio:
aquele que está entre e com as pessoas na busca, talvez nem tanto nas
respostas. Na jornada humana na qual todos, eu e você, estamos.
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